Morávamos em São Paulo, era uma sexta feira do mês de dezembro de 2015. Eu tinha encasquetado que ele nasceria de 42 semanas. Trabalhei até 38.5 semanas, até a hora do almoço. Depois, cuidei de abastecer a casa de tudo que é necessário e mais alguns presentes de Natal. Naquela noite tinha tido algum desconforto “inédito” após voltar do banheiro. Era forte o bastante para eu não encontrar uma posição para dormir. Meu marido, percebendo a movimentação, perguntou se eu estava bem. Logo que eu expliquei, voltou a dormir, e eu, que começava a pensar se aquilo era algum sinal, resolvi que também deveria dormir, e consegui. O fato é que eu não tinha sentido aquilo em nenhuma outra noite. Passei o dia com algumas contrações espaçadas, durante as quais eu ficava parada, mas com intensidade que me permitiu trabalhar e fazer compras.
No fim da tarde, deitada no sofá de casa, falando com uma amiga que já estava de 41.5 semanas, resolvi testar o aplicativo que o obstetra dela tinha indicado. Percebi que as minhas contrações não eram tão espaçadas ou irregulares assim. Fui falando com a equipe e perto das 20h a Bárbara (enfermeira obstetra) foi me ver: “colo favorável e 2cm de dilatação”.
Estava acontecendo alguma e vivemos a notícia como uma surpresa gostosa! Continuamos em contato com a equipe, jantamos, fiz um bolo de fubá, tomei banho e ficamos assistindo a um show de uma artista de quem eu gosto muito. As contrações foram ficando cada vez mais intensas e quando percebi, eu andava em ritmo frenético ao redor da cama. Pouco tempo depois, liguei para a Lúcia (doula). Queria ela por perto.
Um dos meus medos era o tempo de deslocamento da equipe, horário de pico, etc… Mas era madrugada de um sábado, em tempo de férias escolares e ela chegou bem rápido (2 da manhã).
De alguma forma nada racional e sem indução específica – tem gente que escuta a gravações, ela mesma poderia ter me conduzido, mas no dia foi tudo bem instintivo – eu respirava de forma a relaxar, a permitir as mudanças necessárias para que meu filho passasse pelo canal de parto. Os exercícios do hypnobirthing que aprendi com a Lúcia e pratiquei durante a gestação me ajudaram a desligar a cabeça e ficar com minha parte “bicho”. E assim foi, nessa toada, com algumas idas ao banheiro, uma bolsa quente no sacro e massagem nos pés, que passamos as próximas poucas horas. Quando a Bárbara chegou novamente, eu já estava totalmente entregue, debruçada na bola suíça, deixando a água quente do chuveiro cair nas minhas costas. Após sua avaliação, fui liberada para entrar na “piscina com água quente”. O calor e a respiração – e o relaxamento que eles viabilizaram – foram meus grandes aliados. Meus métodos não farmacológicos para o alívio da dor.
Eu estava deitada em cima do meu lado esquerdo, levemente sentada. O sol estava nascendo mas eu só pensaria nisso muito depois, vendo as fotos. Me lembro do conforto da água quente, das palavras da Bárbara: “está tudo bem com o Luca”, dos olhares tranquilizantes da Lúcia, do meu marido e do Bráulio (obstetra, que chegou um pouco depois da Bárbara). Quando Luca estava no final do canal de parto, tive vontade de fazer força e fiz. Achei bem mais incômodo do que as contrações e depois disso, voltei a focar em respirar e relaxar. Deixar o corpo agir. Beem no final, nas últimas 2 contrações, eu fiz força. Mas nada exaustivo, muito fisiológica. Depois da primeira, lembro de o Braulio dizer “se quiser, pode sentir seu filho”. Muito calmamente, fiz o primeiro carinho nele, um cafuné. Depois da segunda “força”, meu marido o colocou em meu colo e senti aquele corpinho pela primeira vez, todo meladinho de vérnix. Loirinho, branquelinho, não chorava, mas olhava nos meus olhos com muita curiosidade e atenção.
Ainda na banheira “nasceu a placenta”. Depois fomos pra meu quarto, onde ficamos juntos outras boas horas. Eu e ele fomos avaliados. Estava tudo bem e ainda no quarto, conversando com toda equipe, tomamos um café da manhã improvisado pelo meu marido: pão de queijo, mamão e café. Revivemos os momentos do parto e apesar de ter varado a noite sem dormir e estar cansada, eu estava também eufórica. Apaixonada! Ligamos para nossas famílias, recebi ajuda para amamentar, tomei um banho e quando a equipe foi embora, éramos só nós três. Olhava para meu marido sem acreditar! Conseguimos!
Equipe
Doula: Lúcia Desideri Junqueira
Enfermeira Obstetra: Bárbara Grande
Ginecologista Obstetra: Braulio Zorzella