Agora em Campinas, barriguda, de 38.2 semanas, acordei com uma sensação diferente. Cuidei de vários detalhes, fui atipicamente produtiva, e senti que não demoraria muito para o Matteo chegar. No final da gestação eu me sentia bem cansada e especialmente preguiçosa pela manhã… na manhã seguinte acordei bem antes do despertador, e ainda mais produtiva -interessante como, instintivamente, sem saber o que nossos hormônios estão tramando, a gente arruma o ninho para receber nossos filhos.
As 11hrs mandei mensagem para Tati (doula), e pra Fernanda (enfermeira obstetra), dizendo que eu estava tendo contrações com intervalos relativamente regulares, de mais ou menos de 5 minutos. Mas como eu estava bem, ativa, organizando o almoço, me sugeriram um banho. As contrações continuaram e elas quiseram me ver. Mesmo sendo um domingo em Campinas, como o parto do Luca já tinha sido relativamente rápido, tinha medo de a equipe não chegar a tempo do nascimento do Matteo e eu achei ótimo saber que elas viriam logo. As 15hrs eu ainda estava nos pródromos, com 2 pra 3cm de dilatação, e elas foram embora. Luca foi com meus pais para casa deles, e perto das 19hrs chamei a equipe novamente. Chegaram perto das 20hrs e até umas 21:30hrs eu ainda conversava entre as contrações.
Elas queriam que eu me alimentasse e pedi que meu marido preparasse uma salada com ovo. Enquanto ele estava na cozinha, uma contração inesquecível deu início a uma fase mais avançada do trabalho de parto – eu enfiei a minha cabeça entre as almofadas do sofá e quando me levantei, a doula e as 2 parteiras estavam coladas em mim, em silêncio. Eu sabia que não conseguiria comer nada e entre essa contração e a próxima eu fui lá na cozinha, abracei meu marido, e carinhosamente, disse isso a ele. No fim das contas, incentivada por todos, comi algum tanto. Em pé, enquanto eu aguardava a próxima contração, apoiada na mesa, com a Tati atrás pra me ajudar com as pressões no sacro que tanto me ajudaram. A dor nunca foi insuportável, mas nesse momento já era bem intensa. Na verdade, nem sei dizer se é dor, é uma outra “forma de estar”: zero apetite, intestino parece que vai soltar, respiração acompanhando tudo isso, um olhar para dentro que faz os olhos fecharem, boca seca, muita vontade de se mexer.
Logo pedi para ir para o chuveiro. Gingava de um lado para o outro em um ritmo meio frenético, deixando a água quente bater nas minhas costas. Em pouco tempo eu disse pra Tati: “isso aqui não tá dando nem pro cheiro, quero a piscina”. Autorizada pelas parteiras, fui para a piscina com água quente. E dessa hora até eu ter meu pequeno nos braços, passaram-se 40 minutos.
Intensos 40 minutos. Eu nem acreditava quando senti o Matteo descendo. Estava preparada para mais tempo de trabalho de parto. Pelo menos é o que eu acho hoje. Eu gemi bastante…. No do Luca fui silenciosa, acredito que por ter demorado mais, foi menos intenso. Comecei a gemer baixinho “aaaai” e a Tati disse, “tira o i do ai” e a partir daí, eu fiquei no “aaaaaa”. Não era um grito, e muito menos de dor. Parecia que essa vocalização me desconectava da ardência no sacro… focava no som, e era bom.
A vontade de me mexer passou e eu quis ficar quietinha, coincidentemente ou não, na posição que havia praticado os exercícios de preparo de períneo e os exercícios do hypnobirthing. Era a posição mais fácil para eu relaxar. Eu sabia que Matteo já estava nascendo e com a minha mão, senti seu couro cabeludo, a textura gostosa dos seus cabelinhos. Embora eu tenha sentido vontade de empurrar, estava tudo bem e eu sabia que eu não precisava, já tinha sido assim no parto do Luca. Fui relaxando, soltando tudo o que eu podia… em uma contração saiu a cabecinha, depois o corpinho, e ele veio para o meu colo, também pelas mãos do meu marido. Que alívio e que prazer! Que delícia sentir seu corpo todo meladinho, lembro de fazer carinho e sentir o vérnix espesso. O mundo meio que pára nessa hora. Ainda tem muita coisa pra acontecer, mas a sensação já é a de missão cumprida com sucesso, sabe? Ele super espertinho, eu sentia que estava tudo bem e a Ana Paula (neonatologista), que estava alí, do nosso lado, pôde realizar os exames tempos depois, com calma e carinho.
Então pudemos ficar alí, nesse abraço.
Depois de algum tempo a Fê disse para irmos pra minha cama. Seria melhor a placenta nascer lá. Então a equipe nos ajudou e fomos nós dois, ainda conectados pela placenta, até a cama. Lá permanecemos. Avisamos meus pais e o Luca de que eles já poderiam vir te conhecer e em pouco tempo eles estavam em casa. Foi muito lindo ver a alegria e empolgação do Luca com a chegada do irmão! Ele pode participar de alguma forma – ajudando a Ana (fotógrafa) com a luz, ficando junto durante a pesagem, etc – além de ter tido uma noção menos abstrata sobre o nascimento deles.
Eu tomei um banho e fomos todos para sala fazer uma foto geral. Poucas horas depois do parto, estavamos todos alí, conversando e revivendo as últimas horas.
Depois que todos foram embora, Matteo, Luca e meu marido dormindo, eu estava novamente tão eufórica que não conseguia pegar no sono….
No parto do Luca não quis contratar fotógrafa porque queria o mínimo de pessoas por perto. Minha doula tirou algumas fotos que guardo com muito carinho. Talvez por ser o segundo parto e estar mais tranquila, fiz diferente e simplesmente amei o trabalho da Ana! Até hoje me pego vendo foto por foto, e pensando: conseguimos, de novo! E foi lindo, de novo!
Equipe: Tatiana Maekawa (doula), Fernanda Abbud e Olivia Separavich (Enfermeiras – Parteiras Aurora), Ana Paula Caldas (Neonatologista), Ana Dourado (Fotógrafra)